De Pedro Diógenes, diretor de ‘Pajeú’ (2019), o filme brasileiro é uma das melhores estreias nos cinemas desse final de semana. Um drama familiar bem moldado, que acompanha a relação de uma menina adolescente com o pai, que trabalha como humorista em bares de Fortaleza, onde se pinta e se veste de palhaço e de mulher. Pai e filha sempre tiveram pouco tempos juntos, e um final de semana será derradeiro para reatar laços perdidos. O filme é inspirado na vida do comediante e humorista Paulo Diógenes, nascido no Rio e criado no Ceará, que criou o famoso personagem Raimundinha e faleceu em fevereiro desse ano. Premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes, tem dois atores excelentes em cena, a estreante Lis Sutter no papel da adolescente e Demick Lopes (dos filmes ‘Greta’ e ‘Inferninho’) como o humorista, e rápida participação especial de Jesuíta Barbosa. No filme o diretor Pedro Diogenes procura trazer reflexões sobre paternidade, sexualidade e aceitação, a partir do relacionamento distante entre pai e filha. Com produção da Marrevolto Filmes, juntamente com a Pique-Bandeira Filmes, tem distribuição nos cinemas pela Embaúba Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Nesse documentário didático, simples na forma e repleto de conteúdo informativo/histórico, conhecemos por dentro a ‘Revolta dos Búzios’, também chamada de ‘Revolução dos Alfaiates’ e ‘Conjuração Baiana’. Foi um levante popular contra o governo colonial no estado da Bahia, nascido em 1798, sob influência da Revolução Francesa, ocorrida nove anos antes, e utilizando os ideais do Iluminismo. De caráter emancipacionista, foi um movimento popular, com participação de sapateiros, alfaiates e escravos, que pregava a igualdade racial, e procurava estabelecer no país um governo republicano, democrático, com liberdades plenas, além de acabar com a escravidão. O movimento foi denunciado, o governo prendeu e torturou os conspiradores, com penas de açoite público e morte, resultando em quatro homens assassinados, que foram enforcados e esquartejados em praça pública em Salvador. O diretor Antonio Olavo, pesquisador do tema, trabalhou no filme por 13 anos, e segundo ele, é uma obra para lembrar e preservar a memória do povo negro. O filme utiliza como base o famoso documento ‘Autos da Devassa’ e insere ao longo do filme desenhos, ilustrações e encenação de atores. Produzido pela Portfolium Laboratório de Imagens, tem distribuição da Abará Filmes e está em exibição nos principais cinemas brasileiros. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Depois de adiar a estreia por dois meses, a A2 Filmes lançou nesse final de semana nos principais cinemas brasileiros o eficiente suspense policial ‘Por trás da verdade’ (2023), com a duas vezes ganhadora do Oscar Hilary Swank, de ‘Menina de ouro’ (2004). Ela interpreta uma jornalista que investiga o assassinato do filho, ao lado da namorada dele. Juntas, adentram o hostil mundo do tráfico das drogas. Quando as investigações avançam, a vida das duas corre perigo. Marcam presenças no longa Olivia Cooke, de ‘Jogador número 1’ (2018), e Jack Reynor, de ‘Midsommar: O mal não espera a noite’ (2019). A fotografia, principalmente no ambiente noturno e em lugares fechados, ajuda a condução desse filme de suspense envolvente, dirigido por Miles Joris-Peyrafitt, de "Dreamland: Sonhos e ilusões" (2019). POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Paul Schrader já foi um dos nomes mais fortes do cinema autoral norte-americano, roteirista de ‘Taxi driver’ (1976) e ‘Touro indomável’ (1980), e diretor de ‘Hardcore – No submundo do sexo’ (1979), ‘A marca da pantera’ (1982), ‘Mishima – Uma vida em quatro tempos’ (1985), ‘O dono da noite’ (1992), entre outros. Nos últimos 20 anos rodou vários filmes banais, salvando um ou outro trabalho. ‘Fé corrompida’ (2017), ‘O contador de cartas’ (2021) e esse ‘Jardim dos desejos’ são seus últimos melhores filmes, e podem ser entendidos como uma trilogia. ‘Jardim dos desejos’ acaba de estrear no Brasil, nos cinemas, é um drama que carrega, ao longo da história, um fundo de cinema policial violento e suspense, que se revela aos poucos. Conta a história de um dedicado jardineiro, papel muito bom de Joel Edgerton, que trabalha nos jardins de uma elegante proprietária de terras, uma viúva interpretada por Sigourney Weaver. A rotina tranquila do lugar muda com a chegada da problemática sobrinha-neta da dona das terras, papel de Quintessa Swindell, que vira aprendiz do jardineiro no cuidar das flores. O jardineiro guarda segredos perturbadores, de um passado envolvendo crimes e assassinatos brutais. Exibido no Festival de Veneza, não é um memorável Schrader, mas está nessa nova fase do diretor, que retoma temas que outrora o consagraram, como a brutalidade nas relações, a figura do anti-herói solitário lutando contra o passado sombrio, a redenção etc. Está nos cinemas pela Pandora Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Daisy Ridley, conhecida como a protagonista Rey da última saga “Star Wars”, é uma atriz inglesa talentosíssima e pouca vista nas telas. Em ‘Às vezes quero sumir’, tem a chance de mostrar sua versatilidade e a verve dramática, numa fita independente peculiar, indicada a dois prêmios no Festival de Sundance (incluindo o do júri para a diretora Rachel Lambert). Num papel sensível e marcante, Daisy faz uma jovem de poucas palavras, que trabalha num escritório numa cidadezinha costeira americana. Ela é afligida por pensamentos ruins, como de morrer ou de abandonar tudo e fugir de casa. A chegada de um novo colega de trabalho (o humorista Dave Merheje, aqui contido em papel sério, dramático) a transforma; eles têm forte conexão, passam a se encontrar fora do trabalho, e até um interesse romântico surge ali, fazendo com que ela veja esperança em sua tediosa vida. Com romance, comédia e drama, é um filme bonito e melancólico, que trata da solidão, da dificuldade das pessoas em estabelecer conexões. Inspirada na peça “Killers”, de Kevin Armento, que adaptou o roteiro ao lado de Stefanie Abel Horowitz e Katy Wright-Mead. Está em exibição nos principais cinemas brasileiros, com distribuição da Synapse Distribution. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Exibido em festivais brasileiros como Mostra de Tiradentes e Mostra Intl de Cinema de SP, o novo filme de Helena Ignez – que aqui dirige, escreve, produz e protagoniza, é uma reflexão íntima sobre a liberdade sexual feminina e as políticas do corpo da mulher. Ignez, uma cineasta que veio do cinema underground, faz uma homenagem aos filmes daquele período. Ela interpreta uma artista e sexóloga de 80 anos de idade, amiga e amante de um ativista dos Direitos Humanos (papel de Ney Matogrosso, que já trabalhou em outros longas de Ignez, como ‘Ralé). Juntos, embarcam nas memórias de uma última viagem que fizeram ao Marrocos, cinquenta anos atrás, onde ocorreu uma situação desafiadora. Passado e presente se misturam com efusividade, num filme independente de grandes virtudes. Conta com um elenco grande e formidável, em pequenas participações, e na tela vemos Djin Sganzerla, Guilherme Leme, Mario Bortolotto e outros. Estreou nos principais cinemas brasileiros, com distribuição da Mercúrio Produções. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Polêmica e chocante, foi a fita de estreia do diretor norte-americano S. Craig Zahler, que iniciou a carreira como diretor de fotografia em curtas nos anos 90 e escreveu antes apenas um roteiro, o do terror que se passa num hospital psiquiátrico ‘Desespero’ (2011), de Alexandre Courtès - nesse filme, Zahler já demonstrava gosto pelo macabro, por situações horrendas, com personagens sanguinários. Em ‘Rastro de maldade’ (2015), Zahler escreve e dirige uma história de crueldade e horror no velho oeste, acompanhando um grupo de homens durões, composto por xerifes e pistoleiros e um marido em busca de vingança, que iniciam uma saga para resgatar uma enfermeira – esposa de um deles, raptada por uma tribo indígena. Na verdade, não são indígenas qualquer, e sim um pequeno bando de canibais primitivos que se camuflam com tintas brancas pelo corpo, fazem armadilhas e atacam com flechas; eles matam, comem as vísceras e usam partes do corpo das vítimas para rituais. O grupo fará uma caminhada ao inferno, onde todos serão alvo desses selvagens. Zahler realizou um cult movie impressionante e diferenciado, com momentos de pura violência, como as cenas de canibalismo, sadismo e monstruosidades – por isso recebeu classificação de 18 anos. Ele fez muito com pouco – o orçamento beirou U$ 1,8 milhões, e gravou em apenas 20 dias, com um script escrito em 2007, ou seja, oito anos antes. Zahler faz uma mistura inusitada de gêneros, como o faroeste com terror, passando pelo drama, ação e aventura. Um amigo crítico de cinema e diretor de filmes, Hsu Chien, disse que assistiu uma espécie de ‘Rastros de ódio’ (1956) com ‘Holocausto canibal’ (1980) e ‘O predador’ (1987). O elenco está formidável nessa fita que exige muito dos atores – em especial o quarteto Russell, Wilson, Jenkins e Fox. Exibido em diversos festivais de cinema, onde ganhou prêmios, como BFI London, Sitges e Fangoria. Concorreu ainda no Film Independent Spirit Awards, nas categorias melhor roteiro e ator coadjuvante para Jenkins. Disponível em DVD e bluray e no streaming (Amazon Prime e Apple TV). Em DVD, saiu pela Califórnia Filmes em 2016, e anos depois, em 2021, em bluray pela Versátil em parceria com a Califórnia, numa caixa em luva reforçada com um disco com quase uma hora de vídeos extras, além de pôster, livreto e cards. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Escrito e dirigido por um dos talentos mais impressionantes do cinema policial atual, o pouco conhecido S. Craig Zahler, cujos filmes precisam ser descobertos pelo público. Ele foi apontado como um novo Quentin Tarantino, um cineasta que faz obras frenéticas, com personagens complexos e de inúmeras camadas, com cenas grotescas de crimes e desfechos absurdamente chocantes. Esse filme foi planejado durante as gravações do anterior do diretor, ‘Rastro de maldade’ (2015), um pesado western com ação e momentos de terror com canibalismo, com Kurt Russell e Patrick Wilson, rodado dois anos antes. Em ‘Confronto’, Vince Vaughn, ator presente em boas fitas de comédia e drama, como ‘Penetras bons de bico’ (2005), entrega uma performance incrível, com a cabeça raspada, com uma cruz tatuada de fora a fora na nuca, um ex-boxeador traído pela esposa grávida, preso após um trabalho furado de tráfico de drogas que culminou com mortos. De poucas palavras, forte como um touro, ele sofre outro golpe do destino, quando a ex-mulher é sequestrada por um criminoso perigoso, e terá de fazer um acordo para lá de inusitado – e quase impossível – para que ela seja solta: entrar numa penitenciária de segurança máxima e matar um chefão do crime que domina o local. As situações das cenas de luta e tiros são realistas, nada de pirotecnias do cinema blockbuster; Zahler dá um tom melancólico para o protagonista e um grau de humanidade a todos os personagens. Jennifer Carpenter, da série ‘Dexter’, está correta como a esposa, ex-alcoólatra, Udo Kier, de ‘Bacurau’, faz um criminoso que negocia o acordo com ele, e o astro dos anos 80 Don Johnson, da série ‘Miami Vice’, aparece pouco, mas bem, como o diretor da penitenciária, um homem durão. Que filme espetacular e que diretor certeiro! O elenco todo retornaria no último filme do diretor – ele só tem três longas, chamado ‘Justiça brutal’ (2018), com Mel Gibson, em que ele e Vince Vaughn interpretam uma dupla de policiais que cometem atos ilegais na corporação e se infiltram no submundo do crime. ‘Confronto no pavilhão 99’ foi filmado numa prisão desativada, a Arthur Kill Correctional Facility, em Nova York, e numa instalação militar que lembra cadeia, a Fort Wadsworth, também em NY, o que dá o tom real necessário para a trama. O ‘pavilhão’ do título é referência a uma cena no fim do filme, mas até lá muita água irá rolar, muitas mortes e crimes, com uma tensão crescente, de um personagem que irá para o inferno para salvar a ex-esposa e o filho que irá nascer. Disponível em DVD pela Universal e no streaming para aluguel, no Prime Video, Youtube Filmes e Apple TV. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
O controverso cineasta norte-americano S. Craig Zahler, realizador do western com terror ‘Rastro de maldade’ (2015) e da chocante fita de ação que se passa em duas penitenciárias ‘Confronto no pavilhão 99’ (2017), trata nesse seu último longa-metragem a violência policial nos Estados Unidos. Seu cinema é forte, com cenas que chocam pelo grau de violência, em que ele não mede o senso – o anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, é o mais cruel e sanguinário das três obras do diretor, e este ‘Justiça brutal’ passa bem perto. No longa-metragem, dois detetives mão pesada praticam atos criminosos escondidos, até serem filmados por um anônimo e demitidos da corporação. Eles mudam de lado, roubando grandes quantias de assaltantes, até se depararem com um inimigo perigosíssimo. Nada caminha bem para eles, assim como em todas as obras do diretor – os personagens costumam ter um desfecho trágico, não há nem redenção nem final feliz. A moral dos personagens, e a do filme em si, é sempre duvidosa – justiça com as próprias mãos, justiça a qualquer preço, violência para conter violência, morte a bandidos independente do que fizeram. Os astros Mel Gibson e Vince Vaughn interpretam a dupla principal, um é tão corrompido quanto o outro, e juntos se entendem, forjando provas, torturando pessoas, cometendo delitos e até matando sem pestanejar. O filme recebeu uma chuva de comentários negativos na época, já que os personagens são racistas e preconceituosos, e atiram sem pensar duas vezes - numa das sequências, um dos bandidos explode o rosto de uma mulher no banco, com um tiro. É tanta brutalidade que recebeu uma indicação ao Razzie, o ‘Framboesa de Ouro’, prêmio dado aos piores do ano, numa categoria criada para o filme, chamada de ‘Desprezo pela humanidade’. Para assistir, é necessário conhecer o cinema de Zahler e ter nervos fortes. É um diretor duro na queda, brutal, que costuma chocar. Outro ponto que é estranho em seu cinema é o humor infame, com piadinhas toscas que ‘quebram’ o impacto das cenas mais violentas. Aqui ele aproveita parte do elenco do filme anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, como Vince Vaugh, agora como coadjuvante, Jennifer Carpenter, Udo Kier e Don Johnson. Foi o maior orçamento do diretor, com US$ 15 milhões, que realiza filmes baratos – mesmo assim, custando pouco, teve uma divulgação irrisória, e ninguém assistiu na época. Também é o de maior duração, com 158 minutos - mais um alerta para o público específico. Exibido no Festival de Veneza, foi distribuído no Brasil pelo Amazon Prime Video, disponível no streaming para assinantes. PS: Zahler dirige atualmente um novo filme policial, com Adrien Brody e Vince Vaughn, sobre dois veteranos da Segunda Guerra Mundial, traumatizados, que tentam reajustar seus últimos dias de vida. ‘The Bookie & the Bruiser’ tem previsão de estreia nos cinemas para 2025. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Mais uma fita autoral inusitada e vibrante de Fiona Gordon e Dominique Abel, casados na vida real, que dirigem, escrevem, produzem e costumam atuar em seus filmes. Depois de ‘Rumba’ (2008) e ‘Perdidos em Paris’ (2016), retornam com criatividade vivaz em ‘A estrela cadente’, uma comédia dramática poética com uma série de personagens diferentes numa aventura policial fora do comum. Um ex-ativista trabalha como barman no bar ‘Estrela cadente’ (papel de Abel) e guarda a sete-chaves seu passado sombrio. Até que um homem, vítima de um plano malsucedido dele, o reencontra desejando vingança. Fotografia, cenários e figurinos coloridos aliados a planos e direção de arte minimalistas dialogam com o cinema do finlandês Aki Kaurismäki, em que o burlesco e o verossímil se confundem. Exibido no Festival de Locarno, o filme, uma produção França/Bélgica, estreou nesse fim de semana no Brasil, com distribuição da Pandora Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
De olho numa das melhores estreias nacionais do ano nos cinemas. Depois de percorrer mais de 15 festivais entre 2022 e 2023, chega agora nas principais salas de cinema do país esse incrível e vigoroso filme de Halder Gomes, especializado em comédias, que fez ‘Cine Holliúdy’ e ‘O shaolim do sertão’. Agora muda o tom e faz um drama íntimo, feminino e cheio de metáforas. Chico Diaz está incrível como um pintor que está perdendo a visão e procura inspiração para sua nova obra plástica. Até que se depara com uma atriz em crise (Samantha Müller) e uma marchand (Maria Fernanda Cândido). Passado e presente do artista plástico se fundirão numa fita inteligente, complexa e que discute o processo criativo de artistas pouco aceitos e o valor material e imaterial das pinturas. Adorei e recomendo. O longa é coprodução da ATC, da Glaz Entretenimento e da Globo Filmes, com produção executiva da Ukbar Filmes, de Portugal. Distribuição nos cinemas pela Pandora Filmes.
Lançado no finalzinho dos anos 80, quando já se profetizava o fim do mundo com a chegada do próximo milênio, esse filme de drama, suspense e terror foi um dos tantos nessa linha catastrofista. Na história, fenômenos climáticos entram em choque e colocam a vida de milhões em risco com a chegada de um andarilho misterioso numa cidadezinha. Um casal que espera o nascimento do primeiro filho é procurado incessantemente por esse homem, que tem uma revelação a fazer. Do outro lado, um padre, emissário do Vaticano e ligado à ciência, desconfia desses fenômenos e inicia uma longa e perigosa investigação que colocará a vida de todos em jogo. O filme popularizou-se em VHS, não é uma obra impressionante, mas serve como entretenimento nessa linha de filmes sobre o Apocalipse, ou como queiram, o Juízo Final. Há uma ambientação estranha, um clima de perturbação que nos deixa angustiados e atentos para o desfecho. Qual o segredo que o andarilho guarda? Quem dirige é Carl Schultz, que trabalhou mais em séries de TV, e o roteiro é de Clifford e Ellen Green, casados na época, de ‘SpaceCamp – Aventura no espaço’ (1986) e que depois fariam um filme semelhante a esse, ‘A filha da luz’ (2000). Demi Moore estava em início de carreira, logo se tornaria estrela, e Michael Biehn já se projetava no cinema após ‘Aliens, o resgate’ (1986). O alemão Jürgen Prochnow, de ‘O barco – Inferno no mar’ (1981), faz o papel do andarilho que não sabemos ser anjo ou demônio. Disponível em DVD, recém-lançado num digipack especial pela Classicline, com cards.
A distribuidora Obras-primas do Cinema destaca em seus últimos lançamentos em DVD o cinema de Márta Mészáros, cineasta socialista e feminista de origem judia, expoente do Novo Cinema Húngaro, que reformulou as bases e as teorias da produção cinematográfica do país no pós-guerra. Suas obras sociais e críticas tratam justamente do trabalho das mulheres no país intercalando temas como maternidade e solidão na meia-idade. ‘Adoção’ (1975), seu principal filme, trata desses temas, com enfoque nos dois últimos. De forma delicada, com muitas cenas de troca de olhares e longas sequências de silêncio, a diretora - e também roteirista aqui - conta a história de uma mulher solitária e cheia de amarguras, viúva, que deseja ser mãe agora com mais de 40 anos. Ela fica fixada em uma menina prestes a atingir a maioridade, que vive em uma instituição de caridade, uma espécie de orfanato para jovens. De início as duas mulheres de mundos tão opostos têm crispações, mas aos poucos uma encontra conforto ao lado da outra. No filme acompanhamos a crise de meia-idade da protagonista, feito pela grande atriz húngara já falecida Katalin Berek, e os dilemas da jovem que cresce sem lar, sem pais, sem futuro – outro bom papel, o da atriz Gyöngyvér Vigh. Mészáros filma tudo numa belíssima fotografia preto-e-branca, e com este trabalho ganhou o Urso de Ouro em Berlim - foi a primeira mulher a receber o prêmio no festival. É um filme belo e trágico, que merece ser descoberto, ainda mais agora nessa grande cópia em DVD pela Obras-primas do Cinema – recomendo assistirem também ao making of de quase uma hora sobre a diretora, que vem como extra.
Em parceria com a distribuidora California Filmes, a Versátil Home Video lançou há pouco tempo, em bluray, esse simpático drama romântico gay de um dos diretores mais aclamados da França atual, François Ozon, de ‘8 mulheres’ (2002), ‘Swimming pool - À beira da piscina’ (2003), ‘Dentro de casa’ (2012) e ‘Graças a Deus’ (2018). O diretor realizou mais de 30 longas-metragens, grande parte autoral e semiautobiográfico; muitos retratam o universo feminino e há alguns polêmicos que tocam em tema tabu, como pedofilia. Além de diretor, Ozon é roteirista, montador e produtor. De forma crível, sem flertar com o melodrama barato, em ‘Verão de 85’ ele apresenta o relacionamento de dois garotos na fase de amadurecimento, em que se conhecem após um incidente de proporções quase trágicas. A amizade entre eles aumenta, passam a dormir na casa um do outro, até que um inevitável relacionamento amoroso acontece. Um deles tem fixação com a morte e é pensativo, enquanto o outro quer curtir a vida e as baladas e nadar. Dois jovens estranhos nos anos 80, de personalidades diferentes, no desabrochar da vida e das curiosidades amorosas, que procuram se confortar quando estão juntos. Suas famílias não sabem do romance secreto, mas desconfiam. Só que, de maneira abrupta e chocante, o romance, que parecia engrenar, sofrerá uma fatalidade do destino. Ozon escreveu o delicado roteiro levemente inspirado no romance infanto-juvenil ‘Dance on my grave’, uma obra literária do início dos anos 80 e que faz parte de uma série, do britânico Aidan Chambers – o título inusitado aparecerá em uma cena emocionante do filme. Ozon tem apuro com a técnica, trabalhou bem com o diretor de fotografia belga Hichame Alaouie, de ‘Propriedade privada’ (2006), que usa paletas de cores variadas, de cores fortes e sensuais aos tons pastéis. A trilha sonora é muito boa, com clássicos como ‘Cruel summer’, de Bananarama, ‘In between days’, de The Cure, e ‘Sailing’, de Rod Stewart, que dão sentido ao enredo e às experiências dos dois personagens. Exibido nos Festivais de Cannes, San Sebastian e no César, o filme é contado por meio de flashbacks pelo ator principal, o bom Félix Lefebvre, de ‘O professor substituto’ (2018). Um filme com uma história singela e verdadeira que merece ser descoberto. No bluray lançado pela Versátil, o filme vem em caixa com luva reforçada e traz o filme com comentários em áudio do cineasta e uma hora de vídeos extras, incluindo o curta-metragem ‘Um vestido de verão’ (‘Une robe d'été’, de 1996), de François Ozon, exibido na Semana da Crítica em Cannes e que está na origem de ‘Verão de 85’. Na caixa vem um livreto de 16 páginas, um pôster e dois cards. O filme também está disponível no Telecine, e para aluguel no Prime Video, Apple TV e Youtube Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Coprodução Holanda e Reino Unido, esse contundente e dramático filme independente conta a história de uma jovem enfermeira que busca se vingar dos culpados pelo acidente que deixou seu corpo com graves queimaduras. Enquanto revê o passado, apaixona-se por uma paciente do hospital onde trabalha, e juntas fogem para uma cidadezinha do litoral. A ótima atriz Vicky Knight, que de verdade teve 40% do corpo queimado por causa de um incidente, ganhou o prêmio de júri no Teddy, no Festival de Berlim, e lá o filme concorreu ao Panorama. A diretora iniciante Sacha Polak conduz o elenco de maneira formidável e dá uma aula na condução da história e na fotografia. Exibido na Mostra Intl. de Cinema de SP do ano passado, estreou nos cinemas das principais capitais no mes passado. Distribuição da Bitelli Films.
A diretora polonesa Agnieszka Holland, de ‘Colheita amarga’ (19), ‘Filhos da guerra’ (2023) – pelo qual foi indicada ao Oscar de roteirista, e de mais de 30 longas, muitos deles premiados em festivais como Berlim, Cannes e Veneza, faz aqui um retrato dramático e contundente sobre refugiados de guerra em meio a uma crise humanitária sem fim. Uma família síria escapa da guerra civil no país e ao lado de um professor afegão, seguem até a fronteira entre a Polonia e Belarus para pedir ajuda. Lá se encontram com um guarda e uma ativista que dão apoio a refugiados na floresta. Com 153 minutos, todo feito em preto-e-branco – aliás, um capricho de fotografia, o filme dá uma dimensão humana ao tratar dos horrores da guerra. Foi aplaudido nos diversos festivais por onde passou, e em Veneza, recebeu sete prêmios especiais, um marco no festival, dentre eles o do júri, além de ser indicado ao Leão de Ouro. Exibido nos cinemas brasileiros no mes passado, com distribuição da A2 Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Particularmente, achei um dos filmes mais especiais que vi nos últimos meses, e já está na lista das melhores estreias do ano no Brasil. Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes, tem uma história estranha e conturbada, com direção potente da cineasta austríaca Jessica Hausner, de ‘Little Joe: A flor da felicidade’. Um grupo de estudantes de uma escola de elite participa de um programa de nutrição liderado pela professora Novak (Mia Wasikowska, de ‘Segredos de sangue’), cujo objetivo é a reeducação alimentar. Porém os métodos dela não são ortodoxos, ela revoluciona os hábitos alimentares dos estudantes ao extremo, a ponto de emagrecerem muito e passarem mal. O programa se fortalece como uma seita, cujos princípios levam todo o grupo a um desfecho trágico. Os planos e enquadramentos inusitados se aliam a uma fotografia de cores vibrantes e a uma trilha sonora de arrepiar, tornando o filme especial. Sem falar na ótima intepretação de Mia, uma das minhas atrizes favoritas. Um filme sobre os perigos das dietas rigorosas e descontroladas que são vendidas por aí. Está nos cinemas das principais capitais desde semana passada, distribuído pela Pandora Filmes. Classificação indicativa de 18 anos.
Um filme japonês de drama com ficção científica que chegou nos cinemas, na semana passada, para mexer com nossos sentidos. Quem dirige é a estreante Chie Hayakawa, que procurou aqui fazer uma reflexão sobre o etarismo. A trama se passa num futuro distópico; para conter o envelhecimento da população o governo lança o Plano 75, em que os idosos com 75 anos devem entrar num programa de eutanásia. Uma mulher prestes a completar tal idade, um negociante do Plano e uma garota filipina se dividem entre viver ou morrer, aceitar aquela condição ou lutar contra a imposição do sacrifício final. Complexo, com diálogos fortes, o filme ganhou Menção Especial no Caméra D’Or do Festival de Cannes 2022, na seção Um Certo Olhar, e foi submetido para representar o Japão no Oscar em 2023, como Melhor Filme Estrangeiro, mas ficou fora da lista dos finalistas. Está nos cinemas, com distribuição da Sato Company.
Estreou no fim de semana passado nos cinemas brasileiros essa regular fita de sequestro, coprodução Brasil/EUA, inspirada em um fato real, com atores brasileiros, ingleses e australianos e direção do português Pedro Varela, de ‘A canção de Lisboa’. No filme, tenso e cheio de cenas enérgicas, a jovem Mary (Ellie Bamber, de ‘Animais noturnos’) é uma estrangeira que chega para morar no RJ. Ela sofre um sequestro relâmpago ao lado do namorado, Gabriel (James Frecheville, de ‘Reino Animal’). Durante uma noite de pesadelo, eles ficam sob a mira do revólver dos bandidos dentro de uma van que perambula pela cidade, enquanto a polícia tenta encontrá-los. Outras duas histórias de violência surgem paralelamente para completar a trama central. Bem realizado, é um drama com toque de policial refinado. Gostei e recomendo. Nos cinemas pela Vinny Filmes.
Adorável, um filme que é para ver e rever, e lembra, não só no título, mas na história, ‘Conduzindo Miss Daisy’ (1989), ganhador do Oscar de melhor filme. Nessa coprodução França/Bélgica feita em 2022 e só distribuída agora nos cinemas brasileiros, conhecemos a amizade de um taxista (Dany Boon, de ‘A Riviera não é aqui’) com sua nova e especial passageira, Madeleine, uma meiga senhorinha de 92 anos (papel impressionante de Line Renaud, de ‘Noites sem dormir’, na época com 94 anos!). Ele tem de levá-la para uma casa de repouso onde irá morar, no entanto, antes, os dois farão um passeio por Paris, pelos lugares onde Madeleine cruzou desde a infância. Cativante e bem curtinho, a comédia dramática fez sucesso no Festival Varilux de Cinema Francês, depois de ser exibido no Festival de Toronto. Dirigido por Christian Carion, do drama de guerra indicado ao Oscar ‘Feliz natal’ e da recente fita policial ‘Meu filho’. Em cartaz nos cinemas, distribuído pela California Filmes.
Fita policial com suspense típica das antigas sessões do Supercine, com reviravoltas, algumas cenas de ação e muito mistério. Até certa altura achei que a ideia seria original, com revelações surpreendentes, mas foi se tornando previsível. Russel Crowe, de ‘Gladiador’, interpreta um ex-detetive com Mal de Alzheimer que está em um tratamento pioneiro para restaurar sua memória. Um dia, é convocado para auxiliar num caso que atuou no passado, envolvendo um assassinato – o suspeito está no corredor da morte, há provas de que ele não cometeu o crime, e sua execução será em poucos dias. Então o ex-detetive entra com tudo na reabertura do caso, mesmo com a memória falhando e mantendo vínculo com pessoas mal-intencionadas. Russel Crowe até que se esforça, mas vem numa má fase, de filmes irrisórios. Tem participação nada interessante de Karen Gillan, de ‘Guardiões da galáxia’, e quem estreia na direção é Adam Cooper, roteirista de ‘Assassin's Creed’ e ‘Êxodus: Deuses e monstros’ – é dele o roteiro de ‘A teia’, baseado no romance “O livro dos espelhos”, de E.O. Chirovici. Fraco, fraco... Nos cinemas brasileiros pela Imagem Filmes e California Filmes.
Chega aos cinemas brasileiros um dos melhores documentários da edição desse ano do Festival É Tudo Verdade (que terminou no mês passado). ‘Verissimo’ traz a rotina do escritor gaúcho Luís Fernando Verissimo prestes a completar 80 anos – o doc foi filmado em 2016 e só lançado agora. A agenda cheia de Verissimo está presente, com viagens para lançar livros pelo Brasil, participação em conferências, recepção de amigos em casa, entrevistas para TV e telefonemas que não cessam. Cansado e de voz baixa, Verissimo fala sobre sua velhice e como ele lida com essa fase da vida, enquanto sua mente trabalha a mil por hora. Não é uma biografia do escritor, até porque já existem dois filmes sobre ele, e sim essa amostra da rotina do escritor em casa e nos diversos tipos de trabalho. O diretor Angelo Defanti já tinha contato com o universo de Verissimo, pois adaptou um dos livros do gaúcho para o cinema, ‘O clube dos anjos’ (2020).
Vencedor de dois prêmios no Encounters do Festival de Berlim de 2023 e exibido na edição passada do Festival do Rio, o poético drama independente ‘Here’ é mais uma amostra do bom cinema do belga Bas Devos, de ‘Trópico fantasma’ (2019). Ele conta com silêncio e filosofia – o filme não tem trilha sonora, apenas sons da natureza, por isso muito contemplativo – a história de um imigrante romeno que está em Bruxelas trabalhando na construção civil. Ele se prepara para voltar ao país natal. Só que antes faz uma jornada para se despedir dos amigos, em seus últimos dias na Bélgica. Conhece uma jovem de origem chinesa e resolvem se embrenhar numa floresta para analisar musgos para uma pesquisa dela. Ali nascerá uma forte amizade. Um filme sobre encontros e despedidas marcados pelo tempo presente, com bonita fotografia, especialmente a da floresta verde e úmida. Gostei, porém indico para quem segue fitas cult e de narrativa lenta. Distribuição da Zeta Filmes.
Trinta anos depois do fabuloso documentário ‘Grey Gardens’ (1975), obra máxima do ‘cinema direto’ contemporâneo, os irmãos documentaristas Albert e David Maysles lançaram um segundo filme sobre Edith Ewing Beale e Edith Beale, mãe e filha que eram tia e prima da ex-primeira-dama Jacqueline Kennedy Onassis e que viveram reclusas numa mansão chamada Grey Gardens, tomada por mato, sujeira e bichos selvagens. O filme ‘As Beales de Grey Gardens’ (2006) traz novas e nunca exibidas imagens daquele documentário passado, que ficaram guardadas nos arquivos dos Maysles. Em 1975, eles captaram mais de quatro horas, em vídeo, da relação de amor e ódio entre as Beales, e utilizaram parte do material audiovisual, cerca de 1h35, para o filme original. Na nova obra, cortaram mais 1h30 para retomar a história de vida de Big Edie e Little Edie, do luxo à decadência. O protagonismo desse segundo documentário é com a filha, que volta a falar sobre a quase carreira de atriz – ela era modelo nos anos 50, e por pouco não foi chamada para fazer filmes em Hollywood. Tomada por um misto de raiva e desilusão, ela revela novos fatos de seu passado, enquanto perambula pela casa e por fora – os jardins ao redor do casarão Grey Gardens aparecem pouco no primeiro documentário, e agora temos a noção da dimensão do lugar, que ficava à beira-mar, isolado da cidade – lá, Jackie Kennedy passava a infância com seus pais. Já Big Edie, na cama, traz outras lembranças dos anos dourados, quando integrava a alta sociedade, era cantora e se sentava à mesa de celebridades artísticas e políticos. Os gatos, guaxinins, álbuns de fotografia e restos de lixo continuam aparecendo nas gravações – dois anos antes do lançamento do original ‘Grey Gardens’, mãe e filha estamparam as manchetes dos noticiários, em 1973, pois a mansão não tinha condições de higiene para moradia, estava tomada pelo abandono e por animais. Essa desorganização do ambiente reflete o estado mental das personagens, presas ao passado, que contam as mesmas histórias, usam roupas de antigamente e guardam ressentimentos. O filme é um ótimo complemento do anterior, e está disponível em DVD pelo IMS, numa edição lançada em 2020, em dois discos – no primeiro, o original ‘Grey Gardens’ (1975), e no segundo disco, ‘As Beales de Grey Gardens’ (2006), além de 30 minutos de extra e um livreto de 44 páginas com textos de Albert Maysles e outros. Num dos trechos de seu texto, que está no livreto, Maysles diz assim sobre os dias que conviveu com as Beales para fazer os dois documentários: “Elas passavam seus dias não a perseguir o sucesso ou o reconhecimento social, mas, sim, cultivando as próprias relações amorosas conflituosas, entretendo uma à outra (e a nós) com tiradas espirituosas, trocadilhos, canções, poesia, dança e a recitação de memórias de seu passado. Elas encontram beleza até no inevitável envelhecimento da carne, que a maioria de nós tem pavor de enfrentar”.
A Filha do Palhaço
3.7 4De Pedro Diógenes, diretor de ‘Pajeú’ (2019), o filme brasileiro é uma das melhores estreias nos cinemas desse final de semana. Um drama familiar bem moldado, que acompanha a relação de uma menina adolescente com o pai, que trabalha como humorista em bares de Fortaleza, onde se pinta e se veste de palhaço e de mulher. Pai e filha sempre tiveram pouco tempos juntos, e um final de semana será derradeiro para reatar laços perdidos. O filme é inspirado na vida do comediante e humorista Paulo Diógenes, nascido no Rio e criado no Ceará, que criou o famoso personagem Raimundinha e faleceu em fevereiro desse ano.
Premiado na Mostra de Cinema de Tiradentes, tem dois atores excelentes em cena, a estreante Lis Sutter no papel da adolescente e Demick Lopes (dos filmes ‘Greta’ e ‘Inferninho’) como o humorista, e rápida participação especial de Jesuíta Barbosa. No filme o diretor Pedro Diogenes procura trazer reflexões sobre paternidade, sexualidade e aceitação, a partir do relacionamento distante entre pai e filha.
Com produção da Marrevolto Filmes, juntamente com a Pique-Bandeira Filmes, tem distribuição nos cinemas pela Embaúba Filmes.
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1798 - Revolta dos Búzios
3.7 1Nesse documentário didático, simples na forma e repleto de conteúdo informativo/histórico, conhecemos por dentro a ‘Revolta dos Búzios’, também chamada de ‘Revolução dos Alfaiates’ e ‘Conjuração Baiana’. Foi um levante popular contra o governo colonial no estado da Bahia, nascido em 1798, sob influência da Revolução Francesa, ocorrida nove anos antes, e utilizando os ideais do Iluminismo. De caráter emancipacionista, foi um movimento popular, com participação de sapateiros, alfaiates e escravos, que pregava a igualdade racial, e procurava estabelecer no país um governo republicano, democrático, com liberdades plenas, além de acabar com a escravidão. O movimento foi denunciado, o governo prendeu e torturou os conspiradores, com penas de açoite público e morte, resultando em quatro homens assassinados, que foram enforcados e esquartejados em praça pública em Salvador.
O diretor Antonio Olavo, pesquisador do tema, trabalhou no filme por 13 anos, e segundo ele, é uma obra para lembrar e preservar a memória do povo negro. O filme utiliza como base o famoso documento ‘Autos da Devassa’ e insere ao longo do filme desenhos, ilustrações e encenação de atores. Produzido pela Portfolium Laboratório de Imagens, tem distribuição da Abará Filmes e está em exibição nos principais cinemas brasileiros.
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Por Trás da Verdade
2.8 5Depois de adiar a estreia por dois meses, a A2 Filmes lançou nesse final de semana nos principais cinemas brasileiros o eficiente suspense policial ‘Por trás da verdade’ (2023), com a duas vezes ganhadora do Oscar Hilary Swank, de ‘Menina de ouro’ (2004). Ela interpreta uma jornalista que investiga o assassinato do filho, ao lado da namorada dele. Juntas, adentram o hostil mundo do tráfico das drogas. Quando as investigações avançam, a vida das duas corre perigo. Marcam presenças no longa Olivia Cooke, de ‘Jogador número 1’ (2018), e Jack Reynor, de ‘Midsommar: O mal não espera a noite’ (2019). A fotografia, principalmente no ambiente noturno e em lugares fechados, ajuda a condução desse filme de suspense envolvente, dirigido por Miles Joris-Peyrafitt, de "Dreamland: Sonhos e ilusões" (2019). POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Jardim dos Desejos
3.3 14Paul Schrader já foi um dos nomes mais fortes do cinema autoral norte-americano, roteirista de ‘Taxi driver’ (1976) e ‘Touro indomável’ (1980), e diretor de ‘Hardcore – No submundo do sexo’ (1979), ‘A marca da pantera’ (1982), ‘Mishima – Uma vida em quatro tempos’ (1985), ‘O dono da noite’ (1992), entre outros. Nos últimos 20 anos rodou vários filmes banais, salvando um ou outro trabalho. ‘Fé corrompida’ (2017), ‘O contador de cartas’ (2021) e esse ‘Jardim dos desejos’ são seus últimos melhores filmes, e podem ser entendidos como uma trilogia. ‘Jardim dos desejos’ acaba de estrear no Brasil, nos cinemas, é um drama que carrega, ao longo da história, um fundo de cinema policial violento e suspense, que se revela aos poucos. Conta a história de um dedicado jardineiro, papel muito bom de Joel Edgerton, que trabalha nos jardins de uma elegante proprietária de terras, uma viúva interpretada por Sigourney Weaver. A rotina tranquila do lugar muda com a chegada da problemática sobrinha-neta da dona das terras, papel de Quintessa Swindell, que vira aprendiz do jardineiro no cuidar das flores. O jardineiro guarda segredos perturbadores, de um passado envolvendo crimes e assassinatos brutais.
Exibido no Festival de Veneza, não é um memorável Schrader, mas está nessa nova fase do diretor, que retoma temas que outrora o consagraram, como a brutalidade nas relações, a figura do anti-herói solitário lutando contra o passado sombrio, a redenção etc. Está nos cinemas pela Pandora Filmes.
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Às Vezes Quero Sumir
3.4 11Daisy Ridley, conhecida como a protagonista Rey da última saga “Star Wars”, é uma atriz inglesa talentosíssima e pouca vista nas telas. Em ‘Às vezes quero sumir’, tem a chance de mostrar sua versatilidade e a verve dramática, numa fita independente peculiar, indicada a dois prêmios no Festival de Sundance (incluindo o do júri para a diretora Rachel Lambert). Num papel sensível e marcante, Daisy faz uma jovem de poucas palavras, que trabalha num escritório numa cidadezinha costeira americana. Ela é afligida por pensamentos ruins, como de morrer ou de abandonar tudo e fugir de casa. A chegada de um novo colega de trabalho (o humorista Dave Merheje, aqui contido em papel sério, dramático) a transforma; eles têm forte conexão, passam a se encontrar fora do trabalho, e até um interesse romântico surge ali, fazendo com que ela veja esperança em sua tediosa vida.
Com romance, comédia e drama, é um filme bonito e melancólico, que trata da solidão, da dificuldade das pessoas em estabelecer conexões. Inspirada na peça “Killers”, de Kevin Armento, que adaptou o roteiro ao lado de Stefanie Abel Horowitz e Katy Wright-Mead. Está em exibição nos principais cinemas brasileiros, com distribuição da Synapse Distribution.
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A Alegria é a Prova dos Nove
2.5 2Exibido em festivais brasileiros como Mostra de Tiradentes e Mostra Intl de Cinema de SP, o novo filme de Helena Ignez – que aqui dirige, escreve, produz e protagoniza, é uma reflexão íntima sobre a liberdade sexual feminina e as políticas do corpo da mulher. Ignez, uma cineasta que veio do cinema underground, faz uma homenagem aos filmes daquele período. Ela interpreta uma artista e sexóloga de 80 anos de idade, amiga e amante de um ativista dos Direitos Humanos (papel de Ney Matogrosso, que já trabalhou em outros longas de Ignez, como ‘Ralé). Juntos, embarcam nas memórias de uma última viagem que fizeram ao Marrocos, cinquenta anos atrás, onde ocorreu uma situação desafiadora. Passado e presente se misturam com efusividade, num filme independente de grandes virtudes. Conta com um elenco grande e formidável, em pequenas participações, e na tela vemos Djin Sganzerla, Guilherme Leme, Mario Bortolotto e outros. Estreou nos principais cinemas brasileiros, com distribuição da Mercúrio Produções. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Rastro de Maldade
3.7 408 Assista AgoraPolêmica e chocante, foi a fita de estreia do diretor norte-americano S. Craig Zahler, que iniciou a carreira como diretor de fotografia em curtas nos anos 90 e escreveu antes apenas um roteiro, o do terror que se passa num hospital psiquiátrico ‘Desespero’ (2011), de Alexandre Courtès - nesse filme, Zahler já demonstrava gosto pelo macabro, por situações horrendas, com personagens sanguinários. Em ‘Rastro de maldade’ (2015), Zahler escreve e dirige uma história de crueldade e horror no velho oeste, acompanhando um grupo de homens durões, composto por xerifes e pistoleiros e um marido em busca de vingança, que iniciam uma saga para resgatar uma enfermeira – esposa de um deles, raptada por uma tribo indígena. Na verdade, não são indígenas qualquer, e sim um pequeno bando de canibais primitivos que se camuflam com tintas brancas pelo corpo, fazem armadilhas e atacam com flechas; eles matam, comem as vísceras e usam partes do corpo das vítimas para rituais. O grupo fará uma caminhada ao inferno, onde todos serão alvo desses selvagens.
Zahler realizou um cult movie impressionante e diferenciado, com momentos de pura violência, como as cenas de canibalismo, sadismo e monstruosidades – por isso recebeu classificação de 18 anos. Ele fez muito com pouco – o orçamento beirou U$ 1,8 milhões, e gravou em apenas 20 dias, com um script escrito em 2007, ou seja, oito anos antes.
Zahler faz uma mistura inusitada de gêneros, como o faroeste com terror, passando pelo drama, ação e aventura. Um amigo crítico de cinema e diretor de filmes, Hsu Chien, disse que assistiu uma espécie de ‘Rastros de ódio’ (1956) com ‘Holocausto canibal’ (1980) e ‘O predador’ (1987).
O elenco está formidável nessa fita que exige muito dos atores – em especial o quarteto Russell, Wilson, Jenkins e Fox.
Exibido em diversos festivais de cinema, onde ganhou prêmios, como BFI London, Sitges e Fangoria. Concorreu ainda no Film Independent Spirit Awards, nas categorias melhor roteiro e ator coadjuvante para Jenkins.
Disponível em DVD e bluray e no streaming (Amazon Prime e Apple TV). Em DVD, saiu pela Califórnia Filmes em 2016, e anos depois, em 2021, em bluray pela Versátil em parceria com a Califórnia, numa caixa em luva reforçada com um disco com quase uma hora de vídeos extras, além de pôster, livreto e cards.
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Confronto no Pavilhão 99
3.7 219 Assista AgoraEscrito e dirigido por um dos talentos mais impressionantes do cinema policial atual, o pouco conhecido S. Craig Zahler, cujos filmes precisam ser descobertos pelo público. Ele foi apontado como um novo Quentin Tarantino, um cineasta que faz obras frenéticas, com personagens complexos e de inúmeras camadas, com cenas grotescas de crimes e desfechos absurdamente chocantes. Esse filme foi planejado durante as gravações do anterior do diretor, ‘Rastro de maldade’ (2015), um pesado western com ação e momentos de terror com canibalismo, com Kurt Russell e Patrick Wilson, rodado dois anos antes. Em ‘Confronto’, Vince Vaughn, ator presente em boas fitas de comédia e drama, como ‘Penetras bons de bico’ (2005), entrega uma performance incrível, com a cabeça raspada, com uma cruz tatuada de fora a fora na nuca, um ex-boxeador traído pela esposa grávida, preso após um trabalho furado de tráfico de drogas que culminou com mortos. De poucas palavras, forte como um touro, ele sofre outro golpe do destino, quando a ex-mulher é sequestrada por um criminoso perigoso, e terá de fazer um acordo para lá de inusitado – e quase impossível – para que ela seja solta: entrar numa penitenciária de segurança máxima e matar um chefão do crime que domina o local.
As situações das cenas de luta e tiros são realistas, nada de pirotecnias do cinema blockbuster; Zahler dá um tom melancólico para o protagonista e um grau de humanidade a todos os personagens. Jennifer Carpenter, da série ‘Dexter’, está correta como a esposa, ex-alcoólatra, Udo Kier, de ‘Bacurau’, faz um criminoso que negocia o acordo com ele, e o astro dos anos 80 Don Johnson, da série ‘Miami Vice’, aparece pouco, mas bem, como o diretor da penitenciária, um homem durão. Que filme espetacular e que diretor certeiro!
O elenco todo retornaria no último filme do diretor – ele só tem três longas, chamado ‘Justiça brutal’ (2018), com Mel Gibson, em que ele e Vince Vaughn interpretam uma dupla de policiais que cometem atos ilegais na corporação e se infiltram no submundo do crime.
‘Confronto no pavilhão 99’ foi filmado numa prisão desativada, a Arthur Kill Correctional Facility, em Nova York, e numa instalação militar que lembra cadeia, a Fort Wadsworth, também em NY, o que dá o tom real necessário para a trama. O ‘pavilhão’ do título é referência a uma cena no fim do filme, mas até lá muita água irá rolar, muitas mortes e crimes, com uma tensão crescente, de um personagem que irá para o inferno para salvar a ex-esposa e o filho que irá nascer.
Disponível em DVD pela Universal e no streaming para aluguel, no Prime Video, Youtube Filmes e Apple TV.
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Justiça Brutal
3.6 153 Assista AgoraO controverso cineasta norte-americano S. Craig Zahler, realizador do western com terror ‘Rastro de maldade’ (2015) e da chocante fita de ação que se passa em duas penitenciárias ‘Confronto no pavilhão 99’ (2017), trata nesse seu último longa-metragem a violência policial nos Estados Unidos. Seu cinema é forte, com cenas que chocam pelo grau de violência, em que ele não mede o senso – o anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, é o mais cruel e sanguinário das três obras do diretor, e este ‘Justiça brutal’ passa bem perto. No longa-metragem, dois detetives mão pesada praticam atos criminosos escondidos, até serem filmados por um anônimo e demitidos da corporação. Eles mudam de lado, roubando grandes quantias de assaltantes, até se depararem com um inimigo perigosíssimo. Nada caminha bem para eles, assim como em todas as obras do diretor – os personagens costumam ter um desfecho trágico, não há nem redenção nem final feliz. A moral dos personagens, e a do filme em si, é sempre duvidosa – justiça com as próprias mãos, justiça a qualquer preço, violência para conter violência, morte a bandidos independente do que fizeram. Os astros Mel Gibson e Vince Vaughn interpretam a dupla principal, um é tão corrompido quanto o outro, e juntos se entendem, forjando provas, torturando pessoas, cometendo delitos e até matando sem pestanejar.
O filme recebeu uma chuva de comentários negativos na época, já que os personagens são racistas e preconceituosos, e atiram sem pensar duas vezes - numa das sequências, um dos bandidos explode o rosto de uma mulher no banco, com um tiro. É tanta brutalidade que recebeu uma indicação ao Razzie, o ‘Framboesa de Ouro’, prêmio dado aos piores do ano, numa categoria criada para o filme, chamada de ‘Desprezo pela humanidade’.
Para assistir, é necessário conhecer o cinema de Zahler e ter nervos fortes. É um diretor duro na queda, brutal, que costuma chocar. Outro ponto que é estranho em seu cinema é o humor infame, com piadinhas toscas que ‘quebram’ o impacto das cenas mais violentas.
Aqui ele aproveita parte do elenco do filme anterior, ‘Confronto no pavilhão 99’, como Vince Vaugh, agora como coadjuvante, Jennifer Carpenter, Udo Kier e Don Johnson. Foi o maior orçamento do diretor, com US$ 15 milhões, que realiza filmes baratos – mesmo assim, custando pouco, teve uma divulgação irrisória, e ninguém assistiu na época. Também é o de maior duração, com 158 minutos - mais um alerta para o público específico.
Exibido no Festival de Veneza, foi distribuído no Brasil pelo Amazon Prime Video, disponível no streaming para assinantes.
PS: Zahler dirige atualmente um novo filme policial, com Adrien Brody e Vince Vaughn, sobre dois veteranos da Segunda Guerra Mundial, traumatizados, que tentam reajustar seus últimos dias de vida. ‘The Bookie & the Bruiser’ tem previsão de estreia nos cinemas para 2025.
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A Estrela Cadente
2.7 4Mais uma fita autoral inusitada e vibrante de Fiona Gordon e Dominique Abel, casados na vida real, que dirigem, escrevem, produzem e costumam atuar em seus filmes. Depois de ‘Rumba’ (2008) e ‘Perdidos em Paris’ (2016), retornam com criatividade vivaz em ‘A estrela cadente’, uma comédia dramática poética com uma série de personagens diferentes numa aventura policial fora do comum. Um ex-ativista trabalha como barman no bar ‘Estrela cadente’ (papel de Abel) e guarda a sete-chaves seu passado sombrio. Até que um homem, vítima de um plano malsucedido dele, o reencontra desejando vingança. Fotografia, cenários e figurinos coloridos aliados a planos e direção de arte minimalistas dialogam com o cinema do finlandês Aki Kaurismäki, em que o burlesco e o verossímil se confundem.
Exibido no Festival de Locarno, o filme, uma produção França/Bélgica, estreou nesse fim de semana no Brasil, com distribuição da Pandora Filmes. POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Vermelho Monet
3.3 7De olho numa das melhores estreias nacionais do ano nos cinemas. Depois de percorrer mais de 15 festivais entre 2022 e 2023, chega agora nas principais salas de cinema do país esse incrível e vigoroso filme de Halder Gomes, especializado em comédias, que fez ‘Cine Holliúdy’ e ‘O shaolim do sertão’. Agora muda o tom e faz um drama íntimo, feminino e cheio de metáforas. Chico Diaz está incrível como um pintor que está perdendo a visão e procura inspiração para sua nova obra plástica. Até que se depara com uma atriz em crise (Samantha Müller) e uma marchand (Maria Fernanda Cândido). Passado e presente do artista plástico se fundirão numa fita inteligente, complexa e que discute o processo criativo de artistas pouco aceitos e o valor material e imaterial das pinturas. Adorei e recomendo. O longa é coprodução da ATC, da Glaz Entretenimento e da Globo Filmes, com produção executiva da Ukbar Filmes, de Portugal. Distribuição nos cinemas pela Pandora Filmes.
A Sétima Profecia
3.0 118 Assista AgoraLançado no finalzinho dos anos 80, quando já se profetizava o fim do mundo com a chegada do próximo milênio, esse filme de drama, suspense e terror foi um dos tantos nessa linha catastrofista. Na história, fenômenos climáticos entram em choque e colocam a vida de milhões em risco com a chegada de um andarilho misterioso numa cidadezinha. Um casal que espera o nascimento do primeiro filho é procurado incessantemente por esse homem, que tem uma revelação a fazer. Do outro lado, um padre, emissário do Vaticano e ligado à ciência, desconfia desses fenômenos e inicia uma longa e perigosa investigação que colocará a vida de todos em jogo.
O filme popularizou-se em VHS, não é uma obra impressionante, mas serve como entretenimento nessa linha de filmes sobre o Apocalipse, ou como queiram, o Juízo Final. Há uma ambientação estranha, um clima de perturbação que nos deixa angustiados e atentos para o desfecho. Qual o segredo que o andarilho guarda?
Quem dirige é Carl Schultz, que trabalhou mais em séries de TV, e o roteiro é de Clifford e Ellen Green, casados na época, de ‘SpaceCamp – Aventura no espaço’ (1986) e que depois fariam um filme semelhante a esse, ‘A filha da luz’ (2000). Demi Moore estava em início de carreira, logo se tornaria estrela, e Michael Biehn já se projetava no cinema após ‘Aliens, o resgate’ (1986). O alemão Jürgen Prochnow, de ‘O barco – Inferno no mar’ (1981), faz o papel do andarilho que não sabemos ser anjo ou demônio.
Disponível em DVD, recém-lançado num digipack especial pela Classicline, com cards.
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Adoção
3.8 7 Assista AgoraA distribuidora Obras-primas do Cinema destaca em seus últimos lançamentos em DVD o cinema de Márta Mészáros, cineasta socialista e feminista de origem judia, expoente do Novo Cinema Húngaro, que reformulou as bases e as teorias da produção cinematográfica do país no pós-guerra. Suas obras sociais e críticas tratam justamente do trabalho das mulheres no país intercalando temas como maternidade e solidão na meia-idade. ‘Adoção’ (1975), seu principal filme, trata desses temas, com enfoque nos dois últimos. De forma delicada, com muitas cenas de troca de olhares e longas sequências de silêncio, a diretora - e também roteirista aqui - conta a história de uma mulher solitária e cheia de amarguras, viúva, que deseja ser mãe agora com mais de 40 anos. Ela fica fixada em uma menina prestes a atingir a maioridade, que vive em uma instituição de caridade, uma espécie de orfanato para jovens. De início as duas mulheres de mundos tão opostos têm crispações, mas aos poucos uma encontra conforto ao lado da outra. No filme acompanhamos a crise de meia-idade da protagonista, feito pela grande atriz húngara já falecida Katalin Berek, e os dilemas da jovem que cresce sem lar, sem pais, sem futuro – outro bom papel, o da atriz Gyöngyvér Vigh.
Mészáros filma tudo numa belíssima fotografia preto-e-branca, e com este trabalho ganhou o Urso de Ouro em Berlim - foi a primeira mulher a receber o prêmio no festival.
É um filme belo e trágico, que merece ser descoberto, ainda mais agora nessa grande cópia em DVD pela Obras-primas do Cinema – recomendo assistirem também ao making of de quase uma hora sobre a diretora, que vem como extra.
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Verão de 85
3.5 174 Assista AgoraEm parceria com a distribuidora California Filmes, a Versátil Home Video lançou há pouco tempo, em bluray, esse simpático drama romântico gay de um dos diretores mais aclamados da França atual, François Ozon, de ‘8 mulheres’ (2002), ‘Swimming pool - À beira da piscina’ (2003), ‘Dentro de casa’ (2012) e ‘Graças a Deus’ (2018). O diretor realizou mais de 30 longas-metragens, grande parte autoral e semiautobiográfico; muitos retratam o universo feminino e há alguns polêmicos que tocam em tema tabu, como pedofilia. Além de diretor, Ozon é roteirista, montador e produtor.
De forma crível, sem flertar com o melodrama barato, em ‘Verão de 85’ ele apresenta o relacionamento de dois garotos na fase de amadurecimento, em que se conhecem após um incidente de proporções quase trágicas. A amizade entre eles aumenta, passam a dormir na casa um do outro, até que um inevitável relacionamento amoroso acontece. Um deles tem fixação com a morte e é pensativo, enquanto o outro quer curtir a vida e as baladas e nadar. Dois jovens estranhos nos anos 80, de personalidades diferentes, no desabrochar da vida e das curiosidades amorosas, que procuram se confortar quando estão juntos. Suas famílias não sabem do romance secreto, mas desconfiam. Só que, de maneira abrupta e chocante, o romance, que parecia engrenar, sofrerá uma fatalidade do destino.
Ozon escreveu o delicado roteiro levemente inspirado no romance infanto-juvenil ‘Dance on my grave’, uma obra literária do início dos anos 80 e que faz parte de uma série, do britânico Aidan Chambers – o título inusitado aparecerá em uma cena emocionante do filme. Ozon tem apuro com a técnica, trabalhou bem com o diretor de fotografia belga Hichame Alaouie, de ‘Propriedade privada’ (2006), que usa paletas de cores variadas, de cores fortes e sensuais aos tons pastéis. A trilha sonora é muito boa, com clássicos como ‘Cruel summer’, de Bananarama, ‘In between days’, de The Cure, e ‘Sailing’, de Rod Stewart, que dão sentido ao enredo e às experiências dos dois personagens.
Exibido nos Festivais de Cannes, San Sebastian e no César, o filme é contado por meio de flashbacks pelo ator principal, o bom Félix Lefebvre, de ‘O professor substituto’ (2018).
Um filme com uma história singela e verdadeira que merece ser descoberto.
No bluray lançado pela Versátil, o filme vem em caixa com luva reforçada e traz o filme com comentários em áudio do cineasta e uma hora de vídeos extras, incluindo o curta-metragem ‘Um vestido de verão’ (‘Une robe d'été’, de 1996), de François Ozon, exibido na Semana da Crítica em Cannes e que está na origem de ‘Verão de 85’. Na caixa vem um livreto de 16 páginas, um pôster e dois cards. O filme também está disponível no Telecine, e para aluguel no Prime Video, Apple TV e Youtube Filmes.
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Névoa Prateada
3.1 5Coprodução Holanda e Reino Unido, esse contundente e dramático filme independente conta a história de uma jovem enfermeira que busca se vingar dos culpados pelo acidente que deixou seu corpo com graves queimaduras. Enquanto revê o passado, apaixona-se por uma paciente do hospital onde trabalha, e juntas fogem para uma cidadezinha do litoral. A ótima atriz Vicky Knight, que de verdade teve 40% do corpo queimado por causa de um incidente, ganhou o prêmio de júri no Teddy, no Festival de Berlim, e lá o filme concorreu ao Panorama. A diretora iniciante Sacha Polak conduz o elenco de maneira formidável e dá uma aula na condução da história e na fotografia. Exibido na Mostra Intl. de Cinema de SP do ano passado, estreou nos cinemas das principais capitais no mes passado. Distribuição da Bitelli Films.
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Zona de Exclusão
3.9 1A diretora polonesa Agnieszka Holland, de ‘Colheita amarga’ (19), ‘Filhos da guerra’ (2023) – pelo qual foi indicada ao Oscar de roteirista, e de mais de 30 longas, muitos deles premiados em festivais como Berlim, Cannes e Veneza, faz aqui um retrato dramático e contundente sobre refugiados de guerra em meio a uma crise humanitária sem fim. Uma família síria escapa da guerra civil no país e ao lado de um professor afegão, seguem até a fronteira entre a Polonia e Belarus para pedir ajuda. Lá se encontram com um guarda e uma ativista que dão apoio a refugiados na floresta. Com 153 minutos, todo feito em preto-e-branco – aliás, um capricho de fotografia, o filme dá uma dimensão humana ao tratar dos horrores da guerra. Foi aplaudido nos diversos festivais por onde passou, e em Veneza, recebeu sete prêmios especiais, um marco no festival, dentre eles o do júri, além de ser indicado ao Leão de Ouro. Exibido nos cinemas brasileiros no mes passado, com distribuição da A2 Filmes.
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Clube Zero
3.2 12Particularmente, achei um dos filmes mais especiais que vi nos últimos meses, e já está na lista das melhores estreias do ano no Brasil. Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes, tem uma história estranha e conturbada, com direção potente da cineasta austríaca Jessica Hausner, de ‘Little Joe: A flor da felicidade’. Um grupo de estudantes de uma escola de elite participa de um programa de nutrição liderado pela professora Novak (Mia Wasikowska, de ‘Segredos de sangue’), cujo objetivo é a reeducação alimentar. Porém os métodos dela não são ortodoxos, ela revoluciona os hábitos alimentares dos estudantes ao extremo, a ponto de emagrecerem muito e passarem mal. O programa se fortalece como uma seita, cujos princípios levam todo o grupo a um desfecho trágico. Os planos e enquadramentos inusitados se aliam a uma fotografia de cores vibrantes e a uma trilha sonora de arrepiar, tornando o filme especial. Sem falar na ótima intepretação de Mia, uma das minhas atrizes favoritas. Um filme sobre os perigos das dietas rigorosas e descontroladas que são vendidas por aí. Está nos cinemas das principais capitais desde semana passada, distribuído pela Pandora Filmes. Classificação indicativa de 18 anos.
POR FELIPE BRIDA - BLOG CINEMA NA WEB
Plano 75
3.4 8Um filme japonês de drama com ficção científica que chegou nos cinemas, na semana passada, para mexer com nossos sentidos. Quem dirige é a estreante Chie Hayakawa, que procurou aqui fazer uma reflexão sobre o etarismo. A trama se passa num futuro distópico; para conter o envelhecimento da população o governo lança o Plano 75, em que os idosos com 75 anos devem entrar num programa de eutanásia. Uma mulher prestes a completar tal idade, um negociante do Plano e uma garota filipina se dividem entre viver ou morrer, aceitar aquela condição ou lutar contra a imposição do sacrifício final. Complexo, com diálogos fortes, o filme ganhou Menção Especial no Caméra D’Or do Festival de Cannes 2022, na seção Um Certo Olhar, e foi submetido para representar o Japão no Oscar em 2023, como Melhor Filme Estrangeiro, mas ficou fora da lista dos finalistas. Está nos cinemas, com distribuição da Sato Company.
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The Seven Sorrows Of Mary
3.0 1Estreou no fim de semana passado nos cinemas brasileiros essa regular fita de sequestro, coprodução Brasil/EUA, inspirada em um fato real, com atores brasileiros, ingleses e australianos e direção do português Pedro Varela, de ‘A canção de Lisboa’. No filme, tenso e cheio de cenas enérgicas, a jovem Mary (Ellie Bamber, de ‘Animais noturnos’) é uma estrangeira que chega para morar no RJ. Ela sofre um sequestro relâmpago ao lado do namorado, Gabriel (James Frecheville, de ‘Reino Animal’). Durante uma noite de pesadelo, eles ficam sob a mira do revólver dos bandidos dentro de uma van que perambula pela cidade, enquanto a polícia tenta encontrá-los. Outras duas histórias de violência surgem paralelamente para completar a trama central. Bem realizado, é um drama com toque de policial refinado. Gostei e recomendo. Nos cinemas pela Vinny Filmes.
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Conduzindo Madeleine
4.2 12Adorável, um filme que é para ver e rever, e lembra, não só no título, mas na história, ‘Conduzindo Miss Daisy’ (1989), ganhador do Oscar de melhor filme. Nessa coprodução França/Bélgica feita em 2022 e só distribuída agora nos cinemas brasileiros, conhecemos a amizade de um taxista (Dany Boon, de ‘A Riviera não é aqui’) com sua nova e especial passageira, Madeleine, uma meiga senhorinha de 92 anos (papel impressionante de Line Renaud, de ‘Noites sem dormir’, na época com 94 anos!). Ele tem de levá-la para uma casa de repouso onde irá morar, no entanto, antes, os dois farão um passeio por Paris, pelos lugares onde Madeleine cruzou desde a infância. Cativante e bem curtinho, a comédia dramática fez sucesso no Festival Varilux de Cinema Francês, depois de ser exibido no Festival de Toronto. Dirigido por Christian Carion, do drama de guerra indicado ao Oscar ‘Feliz natal’ e da recente fita policial ‘Meu filho’. Em cartaz nos cinemas, distribuído pela California Filmes.
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A Teia
2.8 28Fita policial com suspense típica das antigas sessões do Supercine, com reviravoltas, algumas cenas de ação e muito mistério. Até certa altura achei que a ideia seria original, com revelações surpreendentes, mas foi se tornando previsível. Russel Crowe, de ‘Gladiador’, interpreta um ex-detetive com Mal de Alzheimer que está em um tratamento pioneiro para restaurar sua memória. Um dia, é convocado para auxiliar num caso que atuou no passado, envolvendo um assassinato – o suspeito está no corredor da morte, há provas de que ele não cometeu o crime, e sua execução será em poucos dias. Então o ex-detetive entra com tudo na reabertura do caso, mesmo com a memória falhando e mantendo vínculo com pessoas mal-intencionadas. Russel Crowe até que se esforça, mas vem numa má fase, de filmes irrisórios. Tem participação nada interessante de Karen Gillan, de ‘Guardiões da galáxia’, e quem estreia na direção é Adam Cooper, roteirista de ‘Assassin's Creed’ e ‘Êxodus: Deuses e monstros’ – é dele o roteiro de ‘A teia’, baseado no romance “O livro dos espelhos”, de E.O. Chirovici. Fraco, fraco... Nos cinemas brasileiros pela Imagem Filmes e California Filmes.
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Verissimo
3.1 3Chega aos cinemas brasileiros um dos melhores documentários da edição desse ano do Festival É Tudo Verdade (que terminou no mês passado). ‘Verissimo’ traz a rotina do escritor gaúcho Luís Fernando Verissimo prestes a completar 80 anos – o doc foi filmado em 2016 e só lançado agora. A agenda cheia de Verissimo está presente, com viagens para lançar livros pelo Brasil, participação em conferências, recepção de amigos em casa, entrevistas para TV e telefonemas que não cessam. Cansado e de voz baixa, Verissimo fala sobre sua velhice e como ele lida com essa fase da vida, enquanto sua mente trabalha a mil por hora. Não é uma biografia do escritor, até porque já existem dois filmes sobre ele, e sim essa amostra da rotina do escritor em casa e nos diversos tipos de trabalho. O diretor Angelo Defanti já tinha contato com o universo de Verissimo, pois adaptou um dos livros do gaúcho para o cinema, ‘O clube dos anjos’ (2020).
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Here
3.2 4Vencedor de dois prêmios no Encounters do Festival de Berlim de 2023 e exibido na edição passada do Festival do Rio, o poético drama independente ‘Here’ é mais uma amostra do bom cinema do belga Bas Devos, de ‘Trópico fantasma’ (2019). Ele conta com silêncio e filosofia – o filme não tem trilha sonora, apenas sons da natureza, por isso muito contemplativo – a história de um imigrante romeno que está em Bruxelas trabalhando na construção civil. Ele se prepara para voltar ao país natal. Só que antes faz uma jornada para se despedir dos amigos, em seus últimos dias na Bélgica. Conhece uma jovem de origem chinesa e resolvem se embrenhar numa floresta para analisar musgos para uma pesquisa dela. Ali nascerá uma forte amizade. Um filme sobre encontros e despedidas marcados pelo tempo presente, com bonita fotografia, especialmente a da floresta verde e úmida. Gostei, porém indico para quem segue fitas cult e de narrativa lenta. Distribuição da Zeta Filmes.
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The Beales of Grey Gardens
4.5 5Trinta anos depois do fabuloso documentário ‘Grey Gardens’ (1975), obra máxima do ‘cinema direto’ contemporâneo, os irmãos documentaristas Albert e David Maysles lançaram um segundo filme sobre Edith Ewing Beale e Edith Beale, mãe e filha que eram tia e prima da ex-primeira-dama Jacqueline Kennedy Onassis e que viveram reclusas numa mansão chamada Grey Gardens, tomada por mato, sujeira e bichos selvagens. O filme ‘As Beales de Grey Gardens’ (2006) traz novas e nunca exibidas imagens daquele documentário passado, que ficaram guardadas nos arquivos dos Maysles. Em 1975, eles captaram mais de quatro horas, em vídeo, da relação de amor e ódio entre as Beales, e utilizaram parte do material audiovisual, cerca de 1h35, para o filme original. Na nova obra, cortaram mais 1h30 para retomar a história de vida de Big Edie e Little Edie, do luxo à decadência. O protagonismo desse segundo documentário é com a filha, que volta a falar sobre a quase carreira de atriz – ela era modelo nos anos 50, e por pouco não foi chamada para fazer filmes em Hollywood. Tomada por um misto de raiva e desilusão, ela revela novos fatos de seu passado, enquanto perambula pela casa e por fora – os jardins ao redor do casarão Grey Gardens aparecem pouco no primeiro documentário, e agora temos a noção da dimensão do lugar, que ficava à beira-mar, isolado da cidade – lá, Jackie Kennedy passava a infância com seus pais. Já Big Edie, na cama, traz outras lembranças dos anos dourados, quando integrava a alta sociedade, era cantora e se sentava à mesa de celebridades artísticas e políticos.
Os gatos, guaxinins, álbuns de fotografia e restos de lixo continuam aparecendo nas gravações – dois anos antes do lançamento do original ‘Grey Gardens’, mãe e filha estamparam as manchetes dos noticiários, em 1973, pois a mansão não tinha condições de higiene para moradia, estava tomada pelo abandono e por animais. Essa desorganização do ambiente reflete o estado mental das personagens, presas ao passado, que contam as mesmas histórias, usam roupas de antigamente e guardam ressentimentos.
O filme é um ótimo complemento do anterior, e está disponível em DVD pelo IMS, numa edição lançada em 2020, em dois discos – no primeiro, o original ‘Grey Gardens’ (1975), e no segundo disco, ‘As Beales de Grey Gardens’ (2006), além de 30 minutos de extra e um livreto de 44 páginas com textos de Albert Maysles e outros. Num dos trechos de seu texto, que está no livreto, Maysles diz assim sobre os dias que conviveu com as Beales para fazer os dois documentários: “Elas passavam seus dias não a perseguir o sucesso ou o reconhecimento social, mas, sim, cultivando as próprias relações amorosas conflituosas, entretendo uma à outra (e a nós) com tiradas espirituosas, trocadilhos, canções, poesia, dança e a recitação de memórias de seu passado. Elas encontram beleza até no inevitável envelhecimento da carne, que a maioria de nós tem pavor de enfrentar”.
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