Luiza Rios

Esteticamente impecável, mas o roteiro tem furos que não percebi no filme passado. A construção da personagem Furiosa na infância foi sensacional, mas perdeu força quando ela cresceu. Em um mundo pós-apocalíptico, todos os homens são potenciais violentadores de mulheres. A gente nem precisa falar de mundo pós-apocalíptico... Lembrei do relato da moça que disse que prefere dar de cara com um urso na floresta do que com um homem. Mas o roteiro segurou bem essa primeira parte porque realmente a gente sente esse medo pela criança e ela vai aprendendo cada vez mais como funciona uma sociedade dominada por homens. Mas daí pra frente, foi só ladeira abaixo. Ela anda livre, leve e solta com os seus cabelos longos. Oi?! Não era um mundo absurdamente perigoso para mulheres? Sem falar de seus propósitos... É um personagem masculino escrito para uma personagem feminina. Eu acho que o dedo da esposa de George Miller no filme passado não ficou apenas na edição não. Furiosa, com Charlize Theron é, de fato, uma personagem inesquecível, assim como Sigourney Weaver em Alien e Linda Hamilton em Exterminador do futuro.

Sensacional tecnicamente. Assisti ao filme em uma sala X-Plus e me senti no meio do conflito. Estou ainda atordoada com tanta bala e explosão. Definitivamente é um filme pra tela do cinema. Mas sinto que Alex Garland teve medo de se comprometer. Claramente esse cenário de guerra dialoga com as fake news oriundas do trumpismo, o caos generalizado que a extrema-direta tenta disseminar. Pelas duas estrelas na bandeira me parece que os cinquenta estados se transformaram apenas em dois e eles não sabem muito bem pelo que estão brigando.

Um dos pontos mais altos no final é quando começa a tocar Brothers in Arms, do Dire Straits. Uma canção que reflete sobre os horrores da guerra e a fraternidade entre os soldados. Muito bem encaixada na narrativa de Stan e Philip. Eu amo o diálogo final entre Claudia e Elizabeth.