Eduardo

O menino olha para o céu e sonha poder cruzá-lo um dia. Literalmente, um sonho de milhões. Nada que eles não consigam dar um jeitinho, como o próprio pai diz. Uma convicção ingênua, um brasileirismo: voar alto e vencer na vida, mesmo em meio a tantos ruídos de tirar o sono e adoecer os nervos. É o brasileiro que mira o céu, sem primeiro ter ciência do seu lugar aqui na Terra. Se bem que isso vira uma tática de guerra para não se abater em meio à luta. O que alivia? O Cruzeiro no domingo, as ervas da benzedeira, os fogos no Natal, a cadeira de 70 anos. 

Quando se fala em família tradicional brasileira, é mais ou menos sobre isso que estamos falando (e não sabemos).

Rémi é a dália vermelha: sanguíneo, entregue à vida e por isso próximo da morte.

Léo é a dália branca: racional, escolhe murchar como estratégia de sobrevivência.

Não é possível saber o que se passa na cabeça deles porque eles não falam, e quando falam, desconversam. O mais importante são suas ações. As movimentações sociais. O comportar-se.

É triste quando o filme, bruscamente, desloca o olhar sobre a dinâmica comportamental para a asfixia da culpa.

Quando Irena conhece Oliver, diz que ama a escuridão porque é acolhedora. Foreshadowing e ambiguidade à parte, dá pra levar essa frase ao pé da letra. As sombras e as penumbras aqui são tão belas que ficam convidativas, me despertaram a vontade de ser tragado por elas.